O Instituto Butantan, órgão vinculado à Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, publicou, na New England Journal of Medicine, uma das mais prestigiosas revistas científicas do mundo, os primeiros resultados do ensaio clínico de fase 3 da sua vacina contra a dengue, desenvolvida com a participação da Fiocruz Bahia. O imunizante feito com os quatro vírus atenuados, de dose única, evitou a doença em 79,6% dos vacinados ao longo de um período de dois anos, protegendo tanto quem já tinha tido dengue como aqueles sem infecção prévia. A publicação traz os resultados detalhados de eficácia após a imunização, divulgados no final do ano passado.
A Fiocruz Bahia coordena um dos 16 centros da pesquisa no Brasil e recrutou voluntários com idade entre 2 e 17 anos, independente de terem dengue no passado. Os voluntários são acompanhados durante 5 anos na Unidade Básica de Saúde José Maria de Magalhães, no município de Simões Filho. O local foi escolhido por ter histórico de altas taxas da doença. As pesquisadoras da Fiocruz Bahia, Aldina Barral e Viviane Boaventura, e o infectologista Antônio Bandeira participam do estudo como investigadores.
“Os dados dessa análise foram positivos e estimulantes. O trabalho continuará esse ano até finalizarmos o seguimento de todos os voluntários para então termos o resultado final do estudo. É um trabalho longo, e gostaria de agradecer especialmente a dedicação dos colaboradores e a participação dos voluntários do nosso centro de pesquisa clínica em Simões Filho”, declara Viviane Boaventura.
Trata-se de uma nova perspectiva para o combate da doença em meio ao aumento de casos de dengue no Brasil: nas quatro primeiras de 2024, foram identificados 217.841 casos prováveis da dengue, com 15 mortes confirmadas e 149 sob investigação. No apanhado de 2023, foram registrados 1,6 milhão de casos prováveis até novembro, segundo o Ministério da Saúde. Além disso, a divulgação do estudo fortalece a possibilidade de aprovação da vacina pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
“Os dados de fase 3 são muito animadores. A publicação na NEJM, uma revista de prestígio, reforça a qualidade dos ensaios clínicos conduzidos pelo Butantan, a capacidade dos centros de pesquisa e cientistas envolvidos no projeto e o reconhecimento internacional do Instituto”, afirma Esper Kallás, diretor do Instituto Butantan e investigador principal. “Tudo isso só foi possível graças à colaboração generosa dos participantes que se voluntariaram para o estudo”, completou ele.
A análise de eficácia do imunizante foi feita ao longo de dois anos de acompanhamento de 16.235 voluntários de todo o Brasil, com idades de 2 a 59 anos, em 16 centros de pesquisa. Durante esse período, foram notificados apenas alguns casos de dengue entre os participantes. O estudo, que iniciou o recrutamento em 2016, seguirá até que todos os voluntários completem cinco anos de acompanhamento.
A proteção foi observada em todas as faixas etárias, sendo 90% em adultos de 18 a 59 anos, 77,8% dos 7 aos 17 e 80,1% nas crianças de 2 a 6 anos.
Em pessoas que já apresentavam anticorpos para a dengue antes do estudo, a proteção foi de 89,2%; naqueles que nunca tiveram contato com o vírus, a eficácia foi de 73,6%. O imunizante teve o mesmo perfil de segurança em ambos os grupos, representando uma vantagem em relação a outro disponível no mercado privado que é indicado preferencialmente para pessoas com infecção prévia.
Com informações do Tribuna da Bahia