Não será fácil para o senador Jaques Wagner manter o controle sobre o PT, pelo menos da forma com que o comandou até agora. Petistas envolvidos diretamente na campanha para as eleições de julho, quando serão renovadas todas as direções partidárias – municipais, estaduais e nacional – acham que seu grupo se enfraqueceu no período, notadamente depois da decisão inesperada do presidente regional, Éden Valadares, de desistir de concorrer à reeleição sem preparar nem apresentar um nome para sucedê-lo, o que deflagrou uma disputa renhida pelo domínio do seu espólio. Na prática, a fadiga de material chegou para o time de Wagner no partido.
A ponto de seus liderados externarem a ‘compreensão’ de que ele não terá mais condição de eleger à presidência um nome seu, tirado do bolso do colete, como fez com Éden há seis anos. Parte da dificuldade decorreria do cansaço com a figura do atual presidente, cujo estilo retraído demais, pouco afeito ao espírito de luta comum à legenda, nunca foi um sucesso de bilheteria entre os petistas, o que provocou um forte desgaste em todo o grupo. Mas também devido a um reequilíbrio de forças interno, provocado pelo envelhecimento de quadros, o surgimento de outros e mudanças de concepção entre eles com repercussões sobre a atuação de suas várias correntes políticas.
Isso significa dizer que, se quiser manter sua liderança sobre o partido, o que parece ser o caso, dada a movimentação de seus principais aliados na legenda posteriormente à desistência do presidente, Wagner terá que compor, apoiando um dos candidatos que já estão colocados ou que podem ainda surgir. É uma situação inteiramente diferente daquela que construiu lá atrás, quando constatou que seu sucessor à época, o governador Rui Costa, não se preocupara em preparar um nome para sucedê-lo e que sua resistência poderia levar o partido a perder o governo, o que quase de fato ocorre, caso o senador não tivesse interferido na montagem da chapa.
Na época, usando o poder que adquirira na agremiação, depois de ter avaliado que sua candidatura poderia não decolar ou que talvez tivesse um custo pessoal muito alto para ele, assim como até incentivado, sem sucesso, o nome do senador Otto Alencar (PSD) para a disputa, Wagner obrigou o PT a lançar candidato, o que salvou a pele de todo o grupo, apesar de a decisão ter sido tomada praticamente em cima das eleições. Hoje, como no passado, é a diferença entre o ministro chefe da Casa Civil e Wagner que também motiva o senador a buscar manter sua influência sobre a legenda. E o pano de fundo do imbróglio, mais uma vez, é a sucessão.
Apesar do discurso de desprendimento que faz aqui a ali e de até admitir que Rui pode também concorrer ao Senado, Wagner dá hoje várias demonstrações de que quer ser reeleito sem ainda saber ao certo, no entanto, se o PT terá força para indicar três dos quatro membros da chapa – o dele, o do ministro e o do governador Jerônimo Rodrigues, cujo direito à reeleição o transforma em candidato natural. Há notícias, aliás, de que, dos três, o atual ministro seria aquele eleitoralmente mais forte para a composição. No caso de uma dividida, entretanto, é claro que Wagner rifaria Rui para acomodar um aliado de outro aliado, o que explica sua meta de manter a influência sobre o PT.
*Artigo do editor Raul Monteiro publicado na edição de hoje da Tribuna.
Raul Monteiro*